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“Sempre que possível, considere andar a pé ou de bicicleta”. Em abril, a OMS publicou em seu site um informativo sobre mobilidade durante a pandemia. Isso já sinalizava para uma tendência que cresceria com o passar dos meses, principalmente com o desencorajamento do uso do transporte público. A pergunta que se coloca agora é: essa tendência vai se consolidar após a pandemia ou será algo passageiro?

Desde pelo menos março, a venda de bicicletas vem crescendo significativamente em diversos países – inclusive no Brasil,  que registrou um aumento de 50% em maio, chegando ao impressionante aumento de 118% de junho para julho, quando comparado ao mesmo período em 2019. Na Inglaterra, esse aumento foi de 60% no mês de abril. Nos Estados Unidos, a procura por peças para consertar bicicletas antigas foi tamanha que gerou falta de produtos.

Nessa toada, alguns países passaram a incentivar o uso desse meio de transporte, oferecendo incentivos e aumentando a rede cicloviária. Isso é chamado por especialistas de “urbanismo tático”. Países como Itália, França e Inglaterra têm investido fortemente em infraestrutura para o acômodo do número crescente de ciclistas, tanto de modo temporário e emergencial quanto permanente. A aposta desses e muitos outros países é de que essa guinada da bicicleta se consolide no pós-pandemia.

E há evidências de que vai. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Transporte da Inglaterra mostrou que 39% da população passou a caminhar mais com a pandemia e 38%, a pedalar. Mas o dado mais impressionante é que 93% das pessoas consultadas pretende manter esses hábitos após o fim da pandemia. A amostragem utilizada foi de 2.688 indivíduos, que foram entrevistados entre maio e julho de 2020.

Para estudiosos de planejamento urbano, a tendência a privilegiar cada vez mais transportes alternativos, como a bicicleta, foi catalisado pela pandemia. A cidade do futuro não será viável sem uma revisão dos fundamentos do urbanismo, o que passa necessariamente pela mobilidade. E parece que o foco da discussão sobre alternativas a combustíveis fósseis mudou, e o carro elétrico cedeu seu protagonismo à bicicleta.

O uso generalizado da bicicleta tem um alto potencial de mudança da dinâmica das cidades – com a maior ocupação dos espaços públicos pela população, impactos na sustentabilidade e até mesmo na economia. Mas talvez seu maior trunfo seja, na verdade, seus efeitos na saúde individual e pública, já que é, a um só tempo, esporte, lazer e bem-estar. Ganham as cidades, mas ganham, também, as pessoas.